sábado, 31 de janeiro de 2015

Se a queda é livre, faça com ela o que quiser!


Para quem está acompanhando a minha série “Não tenho uma biografia, mas sim uma trilha musical da minha vida” (kkk) sabe que esse é o segundo post.

Claro que tem haver com o fato de que daqui a pouco estarei lá curtindo o som do Cascadura Rock (hoje, 31 de janeiro de 2015 vai rolar show do Cascadura no Largo Tereza Batista, no Pelourinho - Salvador). Mas também por que na semana passada, comentei com a amiga Ticiana Barral, de forma imprecisa, que “Queda Livre” seria “a música mais triste do Cascadura”.

Me explico melhor aqui: não é que ela seja necessariamente “triste”. É que por seu tom alegre, a canção pode passar batida em todas as suas possibilidades e nuances.

 Para mim (como já disse, não se trata de exegese, nem crítica musical, mas de impressões bem pessoais), foi realmente surpresa quando ouvindo de novo, e de novo, me deparei com a possibilidade de ler na canção o “ser para a morte” de Heidegger – isto é, que o ser humano é um ser em face da morte – que se interroga, se culpa, e se angustia por seu ser diante da iminência do não-ser.

Mas que! Não só angústia e preocupação fazem parte desse itinerário: se a vida é uma “queda” desde o nascimento até a morte, por que não aproveitar até lá? Carpe diem! Ou melhor: aproveite a viagem – colha as paisagens que encontrar no caminho; aprenda; ensine; chore; sorria. Faça valer à pena.

Mas só pra cortar o barato, ou melhor, pra lembrar que nada é “barato” é bom reafirmar que para conquistar o direito de uma vida com significado, é preciso reconhecer que, em algumas instâncias, estamos completamente sós: “Eu posso gritar... ninguém vai me ouvir...” – afinal, quem além de nós mesmos - que viveu cada dor e alegria, cada sentimento de modo único e pessoal - conhece o sentido de nossos gritos mais profundos?

Nesse sentido, é preciso reunir coragem de ficar “nu e só ao meio dia” como diz a outra canção - encarando todos nossos abismos externos e internos. Depois disso, mais uma vez, boa viagem – aproveite a “Queda livre”!

Queda Livre
Cascadura
(http://letras.mus.br/dr-cascadura/451248/)

Lá vamos nós outra vez em queda livre

Não há como parar nem onde segurar
Só nos resta ir
Mas é boa a sensação de estar caindo
É tentar relaxar e se deixar levar sem se debater
Assim eu vou descer em queda livre

É bom manter a atenção
Ao curtir a paisagem
Às vezes ver o céu, às vezes ver o mar,
Passa um avião
Só há um modo de aprender e é caindo

Vou ter o que contar aonde quer que eu vá,
Todos vão saber
Que eu só sei viver
Em queda livre

Eu posso gritar
Ninguém vai me ouvir não vou incomodar
Nem quero saber
Onde eu vou cair pois, pra mim tanto faz
E vou seguindo

Sempre a primeira vez é mais difícil
Tentar sentir-se em paz, pensar em nada mais
Vendo-se cair
Mas, ao invés de temer eu paro e penso:
Outro jeito não há, já que eu tenho que estar
Solto a descer, o jeito é curtir a queda livre

Eu posso gritar
Ninguém vai me ouvir não vou incomodar
Nem quero saber
Onde eu vou cair pois pra mim tanto faz
E vou seguindo

Eu posso gritar
Ninguém vai me ouvir não vou incomodar
Nem quero saber
Onde eu vou cair pois, pra mim tanto faz
E vou seguindo

Só te peço um favor se você está me ouvindo
Se você se lembrar e não se incomodar,
Meu querido irmão,
Cante essa canção se o meu fim for o chão

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"Eu desperdicei todas as minhas lágrimas... Eu desperdicei todos esses anos"

"Eu desperdicei todas as minhas lágrimas... Eu desperdicei todos esses anos..." A canção é "Holding back the years" do Simply Red. Não consigo escapar a um sentimento de nostalgia ao ouvi-la.

Mesmo que não seja uma descrição de minha vida: aliás, é ridículo achar que algo que não tenha sido escrito sobre nós, se aplique de forma direta e literal a nós mesmos. A vezes me parece que quando um fragmento da música serve de espelho para quaisquer situação-sentimento que tenhamos vivido, surge essa falsa obrigação de fazer com que o conjunto inteiro da obra se aplique literalmente a nós. Não é isso, e é bom que esclareça logo na primeira postagem sobre o tema.

Mas enfim, querer voltar no passado e tentar resolver o que deixamos inacabado; refazer escolhas que foram "erradas" é um sentimento comum. Como na canção de Kiko Zambianchi (para os mais novos: não, a música não é do Capital Iniciail): "Se um dia eu pudesse ver, meu passado inteiro. E fizesse parar de chover, nos primeiros erros...".

Como disse de início, isso é mera nostalgia... Não há como voltar no passado - embora posamos lançar novos olhares sobre o mesmo. Mais importante ainda: tentar se livrar dos nossos erros, e das circunstâncias adversas que enfrentamos é talvez o maior equívoco de todos.

Somos quem somos, com nossas circunstâncias, equívocos, acertos. Poderíamos ser melhores? Poderíamos ser piores... Há que se aprender a viver com o que se tem. Mais do que segurar a barra de tudo que passamos, é preciso encontrar caminhos para fazer de nossos abismos mais escuros pontes que nos levem aos lugares mais inesperadamente belos - se não forem tão belos assim, ao menos são nossos; e por isso "Non, je ne regrett te rien" .

Mas chega de papo, e aumente o som (e se quiser, leia tudo de novo ouvindo a canção)!

Holding Back The Years

Simply Red


(Querendo voltar no tempo)

(http://letras.mus.br/simply-red/36327/traducao.html)


Pensando no medo que eu tive por tanto tempo
Quando alguém ouve (os ecos do passado)
Escuta o medo que se foi
Estrangulado pelos desejos do pai
Esperando pelo abraço da mãe
Chegue em mim, mais cedo ou mais tarde

Eu continuarei aguentando
Eu continuarei aguentando

Querendo voltar no tempo
Uma chance para escapar de tudo que eu conheço
Segurando as lágrimas
Pois nada aqui cresceu...
Eu desperdicei todas as minhas lágrimas
Eu desperdicei todos esses anos
E nada tinha a chance de dar certo
E nada jamais pode...

Eu continuarei aguentando
Eu continuarei aguentando
Eu continuarei aguentando
Eu continuarei aguentando
Bem firme

Tudo certo, agora!

Eu desperdicei todas as minhas lágrimas
Eu desperdicei todos aqueles anos
E nada tinha chance de ser bom
Porque nada poderia...

Eu continuarei aguentando
Eu continuarei aguentando
Eu continuarei aguentando
Eu continuarei aguentando

Segurando, segurando, segurando
Digo ooh, onde?
É tudo que eu tenho hoje
É tudo que tenho a dizer...

Holding Back The Years

Simply Red


(http://letras.mus.br/simply-red/36327/traducao.html)

 

Holding back the years
Thinking of the fear I've had so long
When somebody hears
Listen to the fear that's gone

Strangled by the wishes of pater
Hoping for the arms of mater
Get to me the sooner or later
I'll keep holding on
I'll keep holding on
Holding back the years
Chance for me escape from all I've known
Holding back the tears
Cause nothing here has grown

I've wasted all my tears
Wasted all those years
Nothing had the chance to be good
Nothing ever could, yeah, ah oh oh oh
I'll keep holding on
I'll keep holding on
I`ll keep holding on
I'll keep holding on
So tight
All right, oh now!
But I've wasted all my tears
Wasted all of those years
And nothing had the chance to be good
'Cause nothing ever could, oh yeah, oh yeah
I'll keep holding on
I'll keep holding on
I'll keep holding on
I'll keep holding on

Holding, holding, holding aaaah la la la la la...
I say ooh, where?
That's all I have today
It's all I have to say...

Projeto: eu não tenho uma biografia. Tenho uma trilha musical de minha vida...

Um projeto relativamente simples que inicio hoje: compartilhar as músicas de minha playlist acompanhadas de comentários pessoais. Que fique claro que não se trata de uma crítica musical especializada; são apenas aproximações bem pessoais de músicas que atualmente estou ouvindo e fazem eco a sentimentos, visões, opiniões, acerca de mim mesmo, da vida, do mundo. Claro que, sendo quem sou, meus pitacos irão sempre com doses de Teologia, Filosofia, etc. Mas também aqui que fique claro: não serão posts sistemáticos sobre música e teologia - quem tiver interesse nisso, recomendo a obra de Carlos Calvani "Teologia e MPB" que aponta todo um caminho teórico para as relações entre Teologia, cultura, arte. Tenho sim alguns escritos bem fragmentários sobre o assunto publicados aqui mesmo no Blog. Se você quiser dar uma olhada também, sinta-se à vontade. Então vamos lá! Que venham as canções!