quarta-feira, 9 de julho de 2014

Teologia e MPB: uma busca, dois olhares

“Isso é a vida real? Isso é só fantasia? Pego num desmoronamento,
sem poder escapar da realidade...”( Bohemian Rhapsody - Queen)

     Essas primeiras frases da canção, talvez resumam minha motivação para seguir fazendo teologia depois de ter abandonado a concepção do deus “positivo”, que já havia sido morto e enterrado pelo filósofo Nietzsche: um deus que esteve e está a serviço do poder e da vontade de reis e sacerdotes; um deus que é a própria vontade de poder, mal-disfarçada nos discursos homofóbicos de um Malafaia, ou avarentos-megalamoníacos de um Macedo. Mas, para além desses ídolos mortos, o Sagrado continua onde sempre esteve; desafiando-nos como mistério indecifrável e ao mesmo tempo inescapável. Rudolf Otto, fala d’Ele como: “o Mistério terrível e fascinante”, porém, prefiro a definição do Teólogo alemão Paul Tillich sobre o Sagrado: “aquilo que nos preocupa de forma última”. Essa forma de falar desse “Deus além de deus” que Tillich propõe tem, entre outras implicações, o saber que o Sagrado está para além de todos os nomes, dos dogmas das igrejas; talvez até mesmo para além das religiões – embora possa estar presente em certo modo em todas elas.  Mas “preocupações últimas” estão mais ligadas à intuição do Incondicional presente na realidade humana. Como diz o teólogo brasileiro, Carlos Calvani, essa percepção do “Incondicional que abrange e modifica toda nossa existência na medida em que atinge o intelecto, a vontade e as emoções”, fundamentando assim a possibilidade, melhor ainda, a necessidade de se fazer teologia a partir da cultura. A teologia, nesse caso, seria um discurso sobre o sagrado. E o teólogo “profissional” uma das vozes dentro desse discurso.

     A partir desse olhar, qualquer um que esteja falando sobre “coisas últimas” está teologando: seja doutor, padre ou policial... “Coisas últimas” não cabem nos livros de teologia; são grandes como o universo.  Sendo assim, é preciso ler junto com os nossos Livros Sagrados, os “livros” da cultura. E bem, não dá pra argumentar e defender isso de forma suficiente aqui, mas para a cultura brasileira, os maiores e mais importantes “livros” estão em forma de música. Para quem é brasileiro, a MPB – termo pra lá de impreciso – é um espaço privilegiado para captarmos a nossa forma particular de falar sobre o incondicionado: “Se eu quiser falar com Deus, tenho que me aventurar. Tenho que subir aos céus, sem cordas pra segurar...”. Mesmo sem saber “rezar”, o poeta mostra diante do Divino seu “olhar”, ansioso e desejoso de receber  iluminação que possa o guiar na escuridão da vida...

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