terça-feira, 15 de maio de 2012

Das confissões de fé

“Ou será que o deus que criou nosso desejo é tão cruel. 
Mostra os vales onde jorra o leite e o mel. E esses vales são de Deus”  (Chico Buarque)

 Quem atua como professor ou pastor conhece a situação: de vez em quando, diante de um tema para a qual há várias opiniões, vem a pergunta “Mas professor/pastor e o senhor, no que crê?”. A pergunta surge às vezes da angústia de quem teve uma formação baseada na certeza, e por isso tem profunda dificuldade em lidar com dúvidas; noutros casos, é armadilha de quem quer “denunciar” o sujeito por “heresia”.
O fato é que sempre que pude, evitei dar respostas. Seja por que “não sou besta pra tirar onda de herói”, mas, sobretudo por achar que cada qual tem o direito de fazer seus próprios julgamentos e decisões a partir leituras que faz, das experiências que tem.
Mas há um tema em particular sobre a qual sou constantemente “assediado” por uma confissão de fé: homossexualidade.
Novamente, esse pedido de confissão tem intenções variadas. E novamente fico morrendo de má-vontade em fazê-la... Por vários motivos, novamente. Nesse caso, o maior deles é por profundo respeito a quem vive na pele o preconceito e a luta por viver a sua sexualidade que para si, é normal, mas para aqueles que têm traves nos olhos, é maldição. Que direito tenho eu, pois, em deitar falação sobre algo que não é a minha experiência? Muito melhor ouvir e ler quem vive sua condição de homoafetividade com respeito e atenção. Certamente aprenderíamos mais e melhor.
Porém, como o silêncio é cumplicidade com a “maioria”, e nesse caso, a “maioria” é lesbofóbica, homofóbica, cumpre o dever de quem pensa contra a maioria de explicitar sua posição. E já que me perguntaram, eu digo: lésbicas, homossexuais são amados por Deus, como eu, como qualquer outro ser humano. Mais ainda (desculpem-me pela obviedade): são meus semelhantes, a quem devo amar como a mim mesmo. Sem “mas...”. Sem “desde que...”.
Digo mais: cheguei a essas conclusões nas muitas leituras que fiz do texto bíblico. Sem querer entrar num cansativo jogo de “versículo contra versículo” daqueles que brincam de teologia dogmática como quem joga batalha naval, minha “fé” se baseia no enunciado, que para mim é central nas Escrituras, que é a norma do amor. Eu leio todos os textos das Escrituras a partir dessa norma, e qualquer texto que entrar em conflito com a mesma, paciência, ele terá que ficar em segundo lugar. É arbitrária a leitura que eu faço? Pode ser. Embora cá eu saiba que a turminha da “leitura literal” faz exatamente o mesmo – quando um texto não encaixa na suas convicções, tratam de dizer que é metáfora, contextual ou coisa que o valha. Eu faço o mesmo. Mas tenho a honestidade de assumir que faço.
Mas voltando a minha “confissão” central, creio plenamente no amor de Deus, que aceita e inclui todas as formas de amor. E que de igual modo abomina tudo o que seja anti-amor: todas as formas de relacionamento injusto sejam hétero ou homo estão certamente abrangidas aqui.
E ponto final. Peço desculpas aos meus três leitores (plagiando Tutty Vasques), mas não tenho nada mais profundo ou eloqüente a dizer.
É isso que penso. É nisso que creio. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário