segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Diálogo ou morte...

“De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus”  (José Saramago) 

    Chico Buarque em sua canção “Paratodos” como que retratando a diversidade do povo brasileiro, vai dizer: “o meu pai era paulista, meu avô pernambucano, ou meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano...”.  De um modo diferente, incluindo a completa falta de poesia, eu poderia dizer que meu vizinho do 303 é budista; do 402 é adventista; do 501 candomblé; do 702 católico...
     Um fato concreto desse nosso tempo de múltiplas migrações, ajuntamentos urbanos, a liberdade de culto, acesso a informação, tempos e lugares de trânsito: vivemos um tempo de diversidade, em várias dimensões da vida. Juntando tudo isso, estamos cada vez mais próximos do nosso “diferente”.
     A pergunta é o que fazer em face disso. Uma opção é concluir, que o outro é o meu “inferno” – nele se concretiza o contrário das minhas opiniões, vontades e crenças. Ora, me parece que ninguém quer morar com o inferno a sua porta... necessário então é eliminar o outro-inferno, seja de forma metafórica, ignorando-o, desprezando-o, tratando-o como digno de pena, um coitado, alguém que não é da mesma qualidade da nossa; um passo mais, e alguns violentos e extremistas querem eliminar o outro de forma concreta: é assim que há a formação de um “protesto virtual” de um movimento chamado o “São Paulo para os paulistas”, que pretende “livrar” esse Estado da influência principalmente de nordestinos e negros; também hoje assistimos o ressurgimento da Klu-klux-klan nos EUA, e unidos a eles diversos novos grupos pregando a “supremacia branca”. 
     Como se pode ver, “eliminar o outro” é uma opção recorrente; talvez a mais “fácil”. O detalhe para o qual não atentamos, é que ao agir assim ensejamos uma reação igual e contrária: eu também me torno o “inferno” do outro; também ele não vai querer me destruir? Sem precisar aumentar em detalhes, a opção de tratar o outro como o “inferno” arrasta a todos para vivermos nele.
     A outra opção que temos é um profundo exercício de aceitação e compreensão uns dos outros, em suas múltiplas dimensões: política, racial, gênero, opção sexual, religiosa. Como o assunto aqui é a última, diria que o esforço para a vivência ecumênica deveria ser a mais simples de todas, visto a essência da religião (em termos de re-ligare mesmo) é o amor. É claro que os códigos e livros sagrados de todas as religiões tem inúmeros preceitos, alguns deles bem difíceis e duros. Mas tomada em sua forma mais original, é o amor (em suas várias formas) que fundamenta todas as experiências religiosas.
     Falando basicamente das grandes religiões monoteístas, que por seu tamanho e poder tem uma possibilidade de influência ímpar, e que partilham textos e histórias em comum, bastaria que todos os que dizem professar essas religiões se disponham a tão somente a “amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”.    Feito isso, nada mais a dizer. Nada mais de longas palestras sobre justiça social, respeito à mulher, diversidade sexual, ecumenismo, diálogo inter-religioso, luta contra a intolerância. Nada. Apenas amar.
     Mas... enquanto esse dia não chega, que estejamos conscientes da necessidade e exigência de construirmos espaços de inclusão, para que possamos aprender a viver em face do outro. Não como meu adversário, mas como irmãos e irmãs.
     É isso, ou o inferno...

2 comentários:

  1. É isso, Joel. Vamos caminhando e aprendendo juntos um pouquinho disso para a vida não ser inferno.

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  2. Beleza de reflexão, Pr. Joel. Verdadeiro e provocativo. Concordo contigo: alimentar uma política de hostilidade em relação ao Outro é um tiro no pé, afinal somos o Outro para todos os outros. Muito importante pra mim ter referências como você, nessa caminhada de fé. Um grande abraço,
    Jeyson

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