“E, levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; e levantaram a sua voz e choraram, e rasgaram cada um o seu manto, e sobre as suas cabeças lançaram pó ao ar. E assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande. (Jó 2:12-13)
Certamente cada um de nós derramou ao menos uma lágrima diante das imagens que temos visto da catástrofe que se abateu sobre o Japão. Mas não só lá: aqui mesmo no Brasil, diante das chuvas que tem caído forte em diversas partes do país, cenas de dor, morte, desespero chegam até nós numa repetição que chega a nos anestesiar tamanha a velocidade. Diante de perdas tão terríveis, o mínimo que se exige de nós é um profundo respeito pela dor daqueles que perderam tudo, e mais do que isso: perderem todos. Para minha vergonha, alguns “colegas” tem sido aqueles que menor sensibilidade tem demonstrado, ou para dizer de forma clara, têm sido insensíveis, cruéis e desonestos, tanto do ponto de vista teológico como moral, pois têm se aproveitado dessas tragédias para reforçarem sua visão distorcida da realidade, ou simplesmente para aumentar a arrecadação em seus cultos.
É claro que todo evento adverso, levanta para nós que cremos em Deus uma série de perguntas, a mais comum de todas é “por que Deus permitiu que isso acontecesse?”. É uma pergunta honesta que pode nos levar a uma série de reflexões. Pode-se argumentar na direção de que Deus permite que certas coisas sucedam para provar a nossa fé; o problema é que os eventos tais como temos assistido causam uma quantidade de dor e morte tão devastadora que colocá-las como “testes” para a nossa fé tornaria Deus numa espécie de jogador cruel com nossos destinos. Outra reflexão nos leva na direção da compreensão que esses fenômenos têm haver como o modo como nosso mundo existe; nenhum deles é um evento “sobrenatural”; além disso, poderia se acrescentar que muitos destes eventos assumem as proporções terríveis que temos assistido por conta da interferência humana: por que temos ocupado de forma inadequada os espaços, como diz a canção, criando “palácios e barracos”; temos devastado a natureza e com isso precipitado uma série de eventos que depois nos apavoram; criamos formas de energia altamente destrutivas, como no caso da energia nuclear. Mas sei que isso obviamente não é uma resposta definitiva a pergunta. Creio mesmo que não haja tal resposta.
Talvez, a única resposta seja aquela que encontramos no texto de Jó que lemos acima: uma profunda comoção diante da dor alheia, e um silêncio mais do que respeitoso: solidário. Para aqueles que leram o resto do livro, é justamente quando os amigos de Jó resolvem abrir a boca é que começam a dizer as mais rematadas besteiras, como dizer que Jó estava sofrendo por que Deus estava castigando os seus pecados. Pelo que tenho ouvido, parece que muitos pastores de nossos dias não fizeram isto, pois continuam a dizer as mesmas asneiras que os amigos de Jó.
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