“Isso é a vida real?
Isso é só fantasia? Pego num desmoronamento,
sem poder escapar da
realidade...”( Bohemian Rhapsody - Queen)
Essas primeiras
frases da canção, talvez resumam minha motivação para seguir fazendo teologia depois
de ter abandonado a concepção do deus “positivo”, que já havia sido morto e
enterrado pelo filósofo Nietzsche: um deus que esteve e está a serviço do poder
e da vontade de reis e sacerdotes; um deus que é a própria vontade de poder,
mal-disfarçada nos discursos homofóbicos de um Malafaia, ou avarentos-megalamoníacos
de um Macedo. Mas, para além desses ídolos mortos, o Sagrado continua onde
sempre esteve; desafiando-nos como mistério indecifrável e ao mesmo tempo
inescapável. Rudolf Otto, fala d’Ele como: “o Mistério terrível e fascinante”,
porém, prefiro a definição do Teólogo alemão Paul Tillich sobre o Sagrado: “aquilo que nos preocupa de forma última”.
Essa forma de falar desse “Deus além de deus” que Tillich propõe tem, entre outras
implicações, o saber que o Sagrado está para além de todos os nomes, dos dogmas
das igrejas; talvez até mesmo para além das religiões – embora possa estar
presente em certo modo em todas elas. Mas
“preocupações últimas” estão mais ligadas à intuição do Incondicional presente
na realidade humana. Como diz o teólogo brasileiro, Carlos Calvani, essa
percepção do “Incondicional que abrange e
modifica toda nossa existência na medida em que atinge o intelecto, a vontade e
as emoções”, fundamentando assim a possibilidade, melhor ainda, a
necessidade de se fazer teologia a partir da cultura. A teologia, nesse caso,
seria um discurso sobre o sagrado. E o teólogo “profissional” uma das vozes
dentro desse discurso.
A partir desse olhar, qualquer um que esteja
falando sobre “coisas últimas” está teologando: seja doutor, padre ou
policial... “Coisas últimas” não cabem nos livros de teologia; são grandes como
o universo. Sendo assim, é preciso ler
junto com os nossos Livros Sagrados, os “livros” da cultura. E bem, não dá pra
argumentar e defender isso de forma suficiente aqui, mas para a cultura
brasileira, os maiores e mais importantes “livros” estão em forma de música.
Para quem é brasileiro, a MPB – termo pra lá de impreciso – é um espaço
privilegiado para captarmos a nossa forma particular de falar sobre o
incondicionado: “Se eu quiser falar com
Deus, tenho que me aventurar. Tenho que subir aos céus, sem cordas pra
segurar...”. Mesmo sem saber “rezar”, o poeta mostra diante do Divino seu
“olhar”, ansioso e desejoso de receber iluminação que possa o guiar na
escuridão da vida...
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