“O peso que
viu o profeta Habacuque. Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?
Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por
que razão me mostras a iniqüidade,
e me fazes ver a opressão?
Pois que a destruição e a violência estão diante de mim” (Hab. 1:1,2)
Sempre que achamos que o espiral de violência banal e
sem sentido não poder oferecer nenhum outro testemunho eloqüente de sua força,
somos novamente surpreendidos: é o pai que espanca repetidamente sua filha de
nove anos; são meninas de doze anos, prostituídas e cujos agressores deveriam, mas não
são considerados estupradores pelos nossos tribunais; são as crianças sem nome
e sem rosto, torturadas e mortas nas ruas dos subúrbios por grupos de
extermínio, fardados ou não.
Juntos ou separados, tratam-se de crimes que nos comovem, e nos fazem
pensar até onde pode ir à maldade humana. Assusta mais quando lembramos que não
se trata de um fato isolado, e muito menos um “sinal dos tempos”; quer dizer, a
violência é tão antiga quanto à humanidade. Logo no início do relato do
Gênesis, vemos a narração de um fratricídio. É tão antiga quanto à narrativa de
Habacuque que lemos acima, distante de nós por alguns milhares de anos.
Mas isso não faz diferença. Seja na semana passada, no mês anterior, ou
a centena de anos, diante da crueldade humana em sua forma mais vil, nos
sentimos como o profeta, com uma profunda sensação de “peso”. E não importa que
no romance “A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera, tenha
defendido lindamente a idéia que o “peso” é aquilo que nos mantém presos ao chão, sem o
qual nos sentiríamos como que flutuando no ar, sem destino, sem "seriedade".
Se for
pra falar de nosso sentimento comparando a uma obra literária, creio que devemos é ficar revoltados e perplexos tal como
Ivan, personagem de Dostoievski em “Os irmãos Karamázovi”. Junto com ele, gritarmos desesperados: “Toda a ciência do
mundo não vale as lágrima das crianças”.
Nada explica ou justifica a dor de uma
criança torturada ou assassinada: nem estudo, nem discurso ou pregação. Nada responde a dor dos que sofrem a perda de
alguém que amam dessa maneira. De nossa parte, tal como Habacuque ou Ivan, mais do que pretensas respostas, vale o olhar indignado,
a profunda solidariedade com a dor irreparável e o engajamento
contra a violência.
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