“Ou será que o deus que
criou nosso desejo é tão cruel.
Mostra os vales onde
jorra o leite e o mel. E esses vales são de Deus” (Chico Buarque)
Quem atua como professor ou pastor
conhece a situação: de vez em quando, diante de um tema para a qual há várias
opiniões, vem a pergunta “Mas professor/pastor e o senhor, no que crê?”. A
pergunta surge às vezes da angústia de quem teve uma formação baseada
na certeza, e por isso tem profunda dificuldade em lidar com dúvidas; noutros
casos, é armadilha de quem quer “denunciar” o sujeito por “heresia”.
O fato é que sempre que pude,
evitei dar respostas. Seja por que “não sou besta pra tirar onda de herói”,
mas, sobretudo por achar que cada qual tem o direito de fazer seus próprios
julgamentos e decisões a partir leituras que faz, das experiências que tem.
Mas há um tema em particular sobre a
qual sou constantemente “assediado” por uma confissão de fé: homossexualidade.
Novamente, esse pedido de
confissão tem intenções variadas. E novamente fico morrendo de má-vontade em
fazê-la... Por vários motivos, novamente. Nesse caso, o maior deles é por
profundo respeito a quem vive na pele o preconceito e a luta por viver a sua
sexualidade que para si, é normal, mas para aqueles que têm traves nos olhos, é
maldição. Que direito tenho eu, pois, em deitar falação sobre algo que não é a
minha experiência? Muito melhor ouvir e ler quem vive sua condição de homoafetividade
com respeito e atenção. Certamente aprenderíamos mais e melhor.
Porém, como o silêncio é
cumplicidade com a “maioria”, e nesse caso, a “maioria” é lesbofóbica,
homofóbica, cumpre o dever de quem pensa contra a maioria de explicitar sua
posição. E já que me perguntaram, eu digo: lésbicas, homossexuais são amados
por Deus, como eu, como qualquer outro ser humano. Mais ainda (desculpem-me
pela obviedade): são meus semelhantes, a quem devo amar como a mim mesmo. Sem
“mas...”. Sem “desde que...”.
Digo mais: cheguei a essas conclusões nas muitas leituras que fiz do texto bíblico. Sem querer entrar num cansativo
jogo de “versículo contra versículo” daqueles que brincam de teologia dogmática
como quem joga batalha naval, minha “fé” se baseia no enunciado, que para mim é
central nas Escrituras, que é a norma do amor. Eu leio todos os textos das
Escrituras a partir dessa norma, e qualquer texto que entrar em conflito com a
mesma, paciência, ele terá que ficar em segundo lugar. É arbitrária a leitura que eu
faço? Pode ser. Embora cá eu saiba que a turminha da “leitura literal” faz
exatamente o mesmo – quando um texto não encaixa na suas convicções, tratam de
dizer que é metáfora, contextual ou coisa que o valha. Eu faço o mesmo. Mas tenho a honestidade de assumir que faço.
Mas voltando a minha
“confissão” central, creio plenamente no amor de Deus, que aceita e inclui
todas as formas de amor. E que de igual modo abomina tudo o que seja anti-amor:
todas as formas de relacionamento injusto sejam hétero ou homo estão certamente
abrangidas aqui.
E ponto final. Peço desculpas aos meus três
leitores (plagiando Tutty Vasques), mas não tenho nada mais profundo ou
eloqüente a dizer.
É isso que penso. É nisso que creio.