sexta-feira, 20 de abril de 2012

Violência sem fim


 “O peso que viu o profeta Habacuque. Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?
  Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade,
e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim” (Hab. 1:1,2)

Sempre que achamos que o espiral de violência banal e sem sentido não poder oferecer nenhum outro testemunho eloqüente de sua força, somos novamente surpreendidos: é o pai que espanca repetidamente sua filha de nove anos; são  meninas de doze anos, prostituídas e cujos agressores deveriam, mas não são considerados estupradores pelos nossos tribunais; são as crianças sem nome e sem rosto, torturadas e mortas nas ruas dos subúrbios por grupos de extermínio, fardados ou não.
Juntos ou separados, tratam-se de crimes que nos comovem, e nos fazem pensar até onde pode ir à maldade humana. Assusta mais quando lembramos que não se trata de um fato isolado, e muito menos um “sinal dos tempos”; quer dizer, a violência é tão antiga quanto à humanidade. Logo no início do relato do Gênesis, vemos a narração de um fratricídio. É tão antiga quanto à narrativa de Habacuque que lemos acima, distante de nós por alguns milhares de anos.
Mas isso não faz diferença. Seja na semana passada, no mês anterior, ou a centena de anos, diante da crueldade humana em sua forma mais vil, nos sentimos como o profeta, com uma profunda sensação de “peso”. E não importa que no romance “A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera, tenha defendido lindamente a idéia que o “peso” é aquilo que nos mantém presos ao chão, sem o qual nos sentiríamos como que flutuando no ar, sem destino, sem "seriedade". 
Se for pra falar de nosso sentimento comparando a uma obra literária, creio que devemos é ficar revoltados e perplexos tal como Ivan, personagem de Dostoievski em “Os irmãos Karamázovi”. Junto com ele, gritarmos desesperados: “Toda a ciência do mundo não vale as lágrima das crianças”.

Nada explica ou justifica a dor de uma criança torturada ou assassinada: nem estudo, nem discurso ou pregação. Nada responde a dor dos que sofrem a perda de alguém que amam dessa maneira. De nossa parte, tal como Habacuque ou Ivan, mais do que pretensas respostas, vale o olhar indignado, a profunda solidariedade com a dor irreparável e o engajamento contra a violência.